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domingo, 26 de novembro de 2017

foto de Tayla Lorrana/Maranhão/2007


dias fáceis


ohrgh dias felizes e difíceis
ôuuah dias que passam e enganam
pensando que sou bobo do corte ou
bêbado besta entre bregas bacanas
breves baganas do ser um bagaço
em forma de pessoa mais uma pessoa
uma pessoa mesmo inteira e deslocada

corte é o golpe a corte usurpistadora
a incisão do tempo na pele  
tudo é triste e resiste por alguma falha
isso pelo menos em mim oh azar
pois perpasso por criaturas nas ruas
bom esta cidade não tem ruas
sou antigo e elas atualíssimas
e rápidas e alongadas ou não

pessoas que funcionam loco
movem-se no ritmo dos rizomas
de identidade porte fisionomia e
como pode tanta saúde clara
que porra é essa de poder ser
sem estar que não alcanço
interrogação
estamos todos ameaçados
o terceiro mundo explode
o segundo sol não chegou
o primeiro planeta nos dirá vivos

ah dias felizes a e i o u
sem invídia transtorno ou turbulência
dias de ira calamidades e inconsciência
falsidade é um dom poético
sejamos éticos e o resto é
putaria ou possível poesia
qualquer alguma a intrusa
a difusão da luz nos escombros
qual mesmo é seu farol
interrogação
esqueço a profecia na praia
interrogação
criatura perduta da tempo   

quinta-feira, 9 de novembro de 2017


Linda Baptista/foto sem assinatura na web


a cantora ambulante


chegou à nossa casa
o convite de uma cantora
e isso não era comum na cidade 
na face a da figura estampada
o belo perfil e um nome inventado
que não lembrarei nem em hipnose 

de cabelos de sereia e pinta de lápis
um olhar vibrando sedução leve seda
na face b o convite para o drama à 
noite no teatro do salão paroquial

foram horas de espera debaixo das horas
ouvi sussurros sobre ela à mesa cheia
nas calçadas no alto-falante da igreja 
no vozerio vizinho sussurrando suspeitas
tive tempo de nadar no rio correr à ponte
pular no poente e à hora dos sinos de bronze

o banho a roupa e loção foram pra ela
as calçadas tortas pareciam ladrilhadas 
meus olhos se perdiam entre luzes foscas
os setores de cadeiras de escola italiana
estavam falantes barulhentos buliçosos 
e bastou que a cantora e o pianista
surgissem no palco ainda em penumbra 
para que as pessoas uivassem assovios antes 
que ela emitisse alguma nota musical

é que ela era mesmo uma beldade dos sapatos
aos longos cabelos caindo sobre os ombros
da caminhada etérea às lantejoulas no colo
ela acendeu o palco com sua luz cantante
estava tristíssima nos primeiros solos
aos poucos foi se tornando esfogueada
e brandia com os olhos e agudos seu instante
melancólica rumbeira bolerista sambista
ela foi levantando criaturas até deixá-las de pé
aplaudida pelos trinados o rebolado e mistério 

falou um só momento no final das canções 
fora cantora em copacabana e na bahia
perdera-se pelas geografias estradas e gentes
mas quanto mais quente a escuta mais seu
coração se acendia como num encantamento
marítimo e disse então que era das praias e
à noite gostava de sentar-se só nas pedras
pra ouvir uma voz que queria fosse sua
o silêncio se fez num impacto compacto
ondas voltaram de longe ecoando espumas

acendeu um cigarro com isqueiro de prata
algumas mulheres choravam discretamente
os homens ficaram calados ou em canalhice

amei aquela criatura sem destino sem discos
sonhando ser tantas em si e parecia perplexa
diante das flores que o pianista lhe entregou
e das moedas que jogaram a seus pés

voltamos algo exaustos pra casa e ferrolhos
se fecharam e todos foram dormir e fiquei
imaginando onde ela estaria abrigada se em
casa de amigos ou num dos poucos hotéis
eu fiquei triste por ser uma cantora na foz
ambulante e abundante de canções nel cuore
sonhei ouvindo lenços perfumados de sua voz

segunda-feira, 30 de outubro de 2017


a Praça da Matriz/foto de William Crocker, 1962


acorda, barra


parabéns Barra do Corda
pelo gaiolão no quintal de luz
da centenária cadeia ao largo
lado da Igreja Matriz católica
em que presos são devorados pelo sol
herança suprema do escravagismo
que por alguns dois séculos vitimou
aldeias ribeirinhos quilombos matutos
parabéns Barra do Corda
pelos falsos mártires primícias
que um dia dramatizarei caboclo
mistério total mistério da história
de hóstias divinas e venenosas
pelos terrores antigos de inquisições
civilizâncias e infâmias sob telhados silenciosos

quando miava menino vi sair da cadeia
o corpo de um sujeito que diziam
havia sido assassinado à noite por quem?
o detalhe macabro é que o anônimo sujeito
perfurado por um prego caibral na cabeça
estava empanado da cabeça aos pés
ex-posto em madeira similar a uma antiga porta
sabem o que é um prego caibral enferrujado?
fura vara o cérebro enforca no ferro sem corda
e agora deliro pois não há mais escapatória
nem jaculatórias novenas réquiens e procissões

nas primeiras cinco décadas da aldeia invadida
e que se tornou vila e depois cidade aconteceu
guajajaras e canelas eram enforcados nas cordas
pendentes sobre os dois rios então majestosos
corpos secavam entre os galhos das sumaúmas
bicados por urubus e guaribas ecoando um coral
até que os negros dominados pelos mestiços
pungassem os tambores do livramento das dores

de pavor de escuridão e noite quase eterna do sertão
perdão Barra do Corda por seres o labirinto amargo
e fabulosamente desenhado no coração meu e que
tenho certeza pelos deuses é de tantas gerações
aí sofridas suadas soterradas sob tábuas e poços
a valência é que um dia tudo pode ser reescrito

segunda-feira, 16 de outubro de 2017


foto: Tarcísio Meira na novela Sangue e Areia/1968


Areia e Sangue


sete dias sem água numa cidade nova?
os rios do país secando natimortos?
os poderes são apenas três para três?
estou mesmo vivendo na caverna de ali
baba e seus ladrões infestada de golpes?
estamos todos habitados por uma nação
que corrói os nervos e destrói as mentes
numa galopante loucura denominada de
protofascismo? com preâmbulos violentos?
estás entregue a essa inércia da geleia sem
geral mas criada em laboratório industrial?
estão mesmo comendo o pão que o diabo
amassou nesta padaria com baratas e encheu
o seu recheio de outras iguarias vomitáveis?
estamos mesmo bicho tu e tu mesmo no alvo
das delações de balas disparadas no ar como
belas decisões de usurpadores consagrados?
canso canso e desisto resistindo no clamor oh
oh como estou desatinado e comigo desavim
no devir insano de vir a ser o novo até em mim!
sangro na arena imaginária mas estou dentro e
muito distante da inteireza sonhada por poetas 

quarta-feira, 16 de agosto de 2017



foto de Marcel Gautherot

A\gonia


pelas musas instantâneas e indeterminadas
comecemos a cantar
pelas musas despossuídas de um lugar de aporia
em que possam pensar pensamento de musas
comecemos a cantar
pelas músicas dos hospitais perversos e sem
comecemos comecemos a cantar por qualquer
doença dor violência vívida no corpo irmão
dança ou chamado clamor de livramento
via que seja a linguagem exposta por imposição
quaisquer sinas de abandono depressão derrelição
comecemos a pedir por nós atuantes átomos atônitos
por outros átomos atordoados deste caos e cosmos
ou pelo menos consigamos tocar uma corda incisiva
na hora da cirurgia ardente o corpo se distende e vem
sinta que o que me alucina é de ti que se propaga também
sinta os arrepios de ver o fantasma em que me deixei ser
à sua frente tão resolvido e avançando no século dos cegos
abandone as palavras maluco saia ao sol sem cabelos e
chapéu  o chapéu é o céu o céu é o mar da cidade dizem
e preciso mesmo é dar o fora ou entrar sorrateiramente
na balada de mário faustino e litanias de marcílio farias
a pino a poderosástica presença do sol menino velho

quarta-feira, 12 de julho de 2017



foto de Tayla Lorrana/Maranhão/2012



a pedrada


tenho embaixo do olho esquerdo
uma leve cicatriz que me define
nos limites do que passou e não
foi bom mas foi o pânico de sim
ter sido atingido pela pedra poita
lançada da margem direita na moita
do rio corda chegando ao mearim
por um vulto de vândalo na sombra 
e o sangue desceu desde o rosto e
também pelo rio cristalino afluente
mudando a cor das águas pardas

peixes gostam de sangue humano
de sangue não não gostam e nadam
mas o sangue nas águas excita-os à loucura
e sobrevoam por minhas peles e ossos novos
corpo pesado âncora de chumbo
no fundo talvez do leito mais fundo
meu irmão nascido depois de mim
não lembro se já previa a pedrada 
se jogou no rio e me trouxe até
o porto agora inundado de bom sol
e logo em seguida à passagem de 
uma passada embarcação de carvão
subimos as escadas não sei com que cara
pernas molhadas inquietas vexame

não chorei ou então chorei
quando cheguei em casa
de olho fundeado peixe morto
lembro e nem sei da pedrada mais
cicatriz aqui presente mas que nada
aquela que passou foi uma porrada
pedra no caminho das águas ágeis
sem mágoas tenho essa leve
cicatriz infantil e sulcada na face

domingo, 2 de julho de 2017



filme socialismo


os mares de Godard
godarespoir godardos noar
um navio íris de ísis multiétnico
pluriténico cinemaexessência
um oceano de ondas espumas profundezas
gentemalhandonoconvésdacriseemaltomar
porquenãosomosamados
perderamsepotenciassanguíneas
do amoreissomeangustiano
ossodopeito
exéquias excretoras
tímpanos tumbadoras
aparelho do navegar virtual
a pele da baleia do elefante
marinho dos cardumes em
cinemascópio


argel
chega de crimes e de sangue
as coisas dascoisas nas coisas
nas cabines comandos controles
o dinheiro os bares as línguas
negativos números
a palestina sina de sangre
cisne branco e gigante ofega
deslizando nesse mar de refregas
azul de geometria exangue
o pensamento dialético no esgoto
escumas e escunas flutuantes espumas


a mente suga da matéria
percepções desproporcionais
alimento elementar
nadam claridades voam
reflexos negros submergem
cenamemórias  língualheia
quando falo comigo mesmo
utilizo palavras ouvidas do outro
revolução helás reles
as áfricas mais uma vez se fuderam
o que sempre fizemos é patético
egito palestina odessa
grécia nápoles barcelona
ao sol é a morte
nunca olhar de frente


esta manhã enterraram
a estátua do meu deus sangrando


jogo taças no mar
ele o deus nunca promove genocídios
eu sou aquela mãe do fotograma eiseins
subindo os degraus da escada de odessa
em desatino com o filho jazendo nos braços
o pensamento dialético no esgoto
voltam as espumas flutuantes
escunas acústicas


esta noite sonhei e aconteceu
lançavasêmen no maremslowmotion
sem me importar com as câmeras on
segurança or algum olhar de satélite
           
amava o mar amava a mar
tocava uma ária de sereia
no parapeito eis o god ardendo
nas chama(da)s do mundo
sem comentários e é fim

domingo, 30 de abril de 2017



evocação Belchior



pra pisar no pavor
evoco nesta tarde de domingo
um último dia de abril de 17
uma canção de Belchior
o compositor das lanças
evoco os poemas ecoantes
de jangadas aviões estradas
na voz dele e de milhares
evoco as fotos o bigode
as biografias a errância
a beleza nietzscheana
evoco as flores fartas
saia do meu caminho
ele foi de um momento em que
no Mucuripe não havia medo da saudade
evoco e chamo aqui todos os cantadores
a palo seco a fina sintonia rabecas sagradas
a lembrarem do poeta em sangue nas veias
para sempre e nos luzeiros da arma quente
que a felicidade atira sobre nós e de repente   
é preciso que depressa me despeça
o pavor torna-se pó
não virá mais marcar
de horror o domingo 
a tarde e seu andar
e naquele farol de fortaleza
um andor de sons e luzes 
pega fogo pra quem conseguir cantar  

sexta-feira, 28 de abril de 2017


foto CA/2012

olfato 


urinando em sonda membro
alongado de um deus egípcio
caio subitamente na real ao
sentir o odor do tempo em
que moro e vivo e mijo
é um tempo esfarelado
mortas as pirâmides de hoje
aquelas que foram eternas
e como não sou moderno e
nem nunca serei eterno êpa
recolho sombras à insignificância 
jactante de pular em delírio
de alecrim jasmin e sobre você
na noite mais simples do mundo
sim amor aroma os sonhos são    

segunda-feira, 24 de abril de 2017

foto Tayla Lorrana/2011

escrever a dor

ah que necessidade de escrever essa dor
de gritar pra ela sua fúria sua desgraçada
que me impede de escrever num sabor 
que cure essa dor tectônica no corpor
eu sei tuas origens todas salamandra
se requebrando no fogo e apagandoo
sei malandra capanga rapina enxofre
sei de chofre a hora em que desces ou
apeias entre ossos e veias e carnívora
como te instalas mordendo o osso eita
que hoje não haverá outra conversação
se não essa manifestação de digiletras
em ansiosa respiração para que a palavra
chegue derrubando as estufas quentes e
convulsão do fogo factual fátuo fabuloso 
da dor que se esconde no teto ou no éter
de algum lugar do corpo a mim barrado
constrangido contraditoriamente alterado 
expungir os quês e despachar na andança
essa necessidade de escrever contraído 
escrever a dor


terça-feira, 28 de fevereiro de 2017


foto CA/2012

poema de VÂNIA SOUSA 


fevereiro acabou
como todo dia
com maior ou menor alegria
chuva, sol, céu azul
ou de tantas cores
q delícia de tarde
como me sinto confortável
nesta pele, neste lugar, nesta hora
tudo perfeito, belo, tranquilo.
se morresse agora,
nem precisaria arrumar os papéis
sobre a mesa, cama, cadeiras
teria morrido no carnaval
fantasiada de mim mesma

domingo, 19 de fevereiro de 2017



foto CA/2010

vamos


vamos sem apego
é tão difícil é um segredo
vamos sem domínio ou adivinho
é tão insuportável a previsão
vamos sem prisão de cartas
sem mágoa ou inação de signos
mas vamos máximos superlativos
mesmo com os restos de ossos e
carnes que nos vestem a corpórea
matéria o fluxo das artérias e veias
as areias na memória cobrindo tudo
a memória em descalabro ascende
às mais inúteis dores e os pavores
que chegam como insetos de verão
e não passam de insetos em poucas
horas de voo e vida e voejar sob as
lâmpadas da rua anestesiada em que
fica a casa donde habito um eterno lar
a natureza me trai mas estou longe dela

sábado, 18 de fevereiro de 2017

grameiro na quadra 1/Sob/18.2.17- CA

fotograma


estes são dois grameiros
finalizando maquinações
pedi e permitiram o retrato
e ainda conversamos breve  
o motor no corpo pesa
apenas menos que oito quilos
a roupa é que dobra o peso
botas capacete capas plásticas
serviço pesado cortante extenua
e eles não cuidam do detalhes
apenas podam gramíneas da rua
sob o poder musical maquínico
de besouros sobrevoando o chão
o que seria o resto o acabamento
fica por conta do tempo  tangido
agora por cães escandalosos ou
talvez maltratados latindo para
interromper a tentativa da foto
a possibilidade de relembrarler
o que poderia ter dito e que não 

sábado, 11 de fevereiro de 2017


foto CA/11.2.2017

notícias de um sábado de verão


trânsito do eixo alterado
137 mortos e protestoss 
adolescente espancado
na uti e quase morro aqui
pai mata filha diante dos
netos acidentes na madr
ugada marido infiel acus
a uber ministro da defes
a normalidade restaurad
a um hacker joga nome 
de temer na lama mãe m
anda filho à europa recic
lando lixo e mil baleias en
ncalham e morrem na pra
ia mulher discute com bê
bado e é atropelada na m
arginal do tietê oh senho
r me livra dessa verborra
gia úmida sangria de sáb
bado que nunca dá sosse
go ao bobo do ego perdu
to estate il sole che ogni!

domingo, 5 de fevereiro de 2017


foto CA/jan 2017, BsB

alfabetizando



Ar
Balão
Canção
Dádiva
Etérea
Ficção
Gravura
História
Inédita
Jornada
Kaosmos
Liberta
Memória
Névoa
Orla
Paixão
Quase
Rosa
Selva
Túrgida
Úmida
Volátil
Walkman
Xambioá
Ypsis
Zênite

terça-feira, 24 de janeiro de 2017


foto CA/2013, maranhão


vuelvo al sur



claro sou venir que mostro pra você
here in myself the heart belongs to
só na solitude algum sentido faz 
pérola de paranoia extraída
mel de melancolia doce amargo
fina chuva molha o cristal da dor
cura e depura o corpo em extinção
um tição de ser que só tem palavra
um escravo escreve sua própria lavra
livrando-se dos grilhões da fornalha
preso em casa já é alguma coisa ou
é mais ainda alterada coisa que degredo
esse segredo que todos vãos desvelam
camuflagem em favas contadas no trovão
leilão de mim mesmo para tua cena
devir que me desvio e me enfio filho
no ser da morada pulcra conjunção
de pai e mãe lençóis plenos de suor
e juro que não queria chegar a esse ponto
fumo um vagalume me apago ascendo
ardo silêncio suvenir e sobrevivo canto
uma tênue cortina de canto e silêncio     

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017


foto CA/2011

cena quente


entidades tendas mictórios
podres fechados no centro divisório 
da cidade afundada num céu breu
transeuntes nunca dantes vistos
e marginais de tudo o que é real
esquisitíssimos na normalidade
sãos e salvos nas escadas paradas
gás para chorar gás de pimenta
o badernaço fez escola e sustenta  
esta cidade desfuncional em off
que vê mas não enxerga de propósito 
as mais divulgadas crueldades do império
de canalhas fazendo no mundo a imundície  
os impérios são contados nos dedos tatuados 
e esses hipnotizam e aumentam seus preços de
estratégias de selva escura como Dante gravou
em suas páginas misteriosas e luminosas do horror
sobre os povos de inteligentes contatos e índice
de subservidão é isto na esplanada doida então
está tudo explicado por essa menina história 
que não avança apesar da ousadia dos anjos
uma vida de pavor e trash merda seja negada
uma vida de amor caia mesmo sobre tudo
e as asas sangrando logo estarão intactas 


domingo, 15 de janeiro de 2017


foto CA/2017

noite dissolvida


a noite abafada me constrange
a lua que se esconde entre árvores
raio que se quebra escândalo no ar
mas não traz a chuva da benção
preciso amar a margem do precipício
e não jogar-me desaforadamente
mas abraçar sua pedra a terra
e não olhar o abismo inclemente
fazer isso praticar o exercício
como uma cilada para enganar
todo o terror que esse princípio
representa e não me pergunte
que princípio é esse pois nem sei
nem consegui que caísse do éter
ou o prana me soprasse aos ouvidos
mas qual a razão de não estares bem
perguntas são as mais cretinas vozes
que ouço enquanto psicografo o grave 
que soa como avião antes do vôo 
mas não é avião é computador zoando
mas que não sou são isso é a dor
que disse a uma mulher ser feliz e
vejo que não sou não fui não serei
a outra perguntei você não notou
mas sou ansioso e o pânico me pune
e ela de pronto ah notei sim ahahaha  
e isso não importa pois me basta
a ausência de mim mesmo ao meu
lado guardado interior e ventilado
não tenho a força e a fera feroz
em meus domínios no horizonte
talvez as belas vozes de anjos respirando
perdidas cores perdidos pedidos
como se a ausência de deus fosse
aquele momento da fábula bíblica
em que és julgado e logicamente
condenado sem teres culpas mas
com a cuca congestionada de sons
sons falados de falas e falácias
fáceis de se jogar na vasta foz 
do teu oceano como despacho
do teu íntimo como disfarce
da tua agonia como folia
do teu luto
da melancolia
das desavenças
entre ti e mim
armistício