design capa nova de Tayla Lorrana, 2013
abertura
1
celso araujo
e a corja de
vozes
que me assola (m)
2
de meio dia a meia noite
no dezembro de 75
dessa brasília
planalta
suspendam os cintos
afrouxem a pança
que aí vem
tzão
tzão
tzão
3
moeda palavra
duas faces
vira folha
as cartas
não mentem
jamais
4
baralho não tem editora
nem ditadora linguagem
é uma baralhagem
nas horas de vadiagem
5
tão livro é um tzão
um truvão
um travessão
tal livro é um travessão
um trovão
um tzão
6
baralho
não tem editora
nem ditadora
linguagem
é uma baralhagem
nas horas
de vadiagem
tal livro
é um barulho
um barato
um baralho
tal livro
é um baralho
Um barato
o lado
lírico
1.
o poema é desastre
dessas artes que
quando menos se espera
boom
bum
fogo cerrado
dessas armas que
quanto mais se desarma
o arsenal explode
a cidade desaba
os pedaços do céu
os olhos do meu amor
o poema é desastre
2
avança contra os
emblemas
desse auriverde pendão
que o enjoo nacional
beija e balança
draga o que é lodo
droga história
e desgraça-se
entre a escória e a essência
e como o poema é mesmo
um desastre quando
se distrai
espermatiza a vida
entre uma dor e outra
3
eu sou um vampiro belíssimo
um funcionário que público
faz o seguinte
desço as escadas do bloco
às sete horas
sujo a rua com meu silêncio
invado cada solidão
a minha então!!!
naufraga
nessa cidade sem ruas
onde exército de múmias
declaram glória ao terror
4
os palácios estão
intactos
mas as paredes
pedem o aborto elétrico
eixo do meu vazio
coletivo útero
não se fecunda
gente que nem cheira
nem fede
ao contrario de mim
um bode pirado
fugindo dos raios
5
no tempo das chuvas
a kaya é boa
único conto de fadas que podemos ler
sobrevoa bruxa musical
pelas janelas
vidraças
táxis
a kaya kai komo a chuva
de luz pedras e kalor
kaya kaya balão
aqui na minha
escuridão nua
meu pavor
6
qual é a minha
sonda pro abismo da voz
?
ainda clandestino
rumo-esquizofrênico
no abismo da célula
na usina na angra
na sangrante hemorragia
atômica estrada
diafragma posso
prender o ar
uma bolha que espalha
poeira folha
câmara de morte
grego solfejo
7
fauno mistério latino
tragédia capitalista
fauno esgarço como um falos
penetrando caverna que
o consumirá substância
fonte onde é domado
neste cemitério
nos oferecem ossos
ócios espetaculares
e eternizamos a fome
com os vermes do silêncio
antes um deus se vingava
com pragas
e hoje instrumentos de tortura
8
que tragédia
que imoralidade
coitadinho do túmulo
de todos nós
aguentar essa
tecnocrática invenção
de subversivos
uma ditadura come a outra
chupa-lhe o rabo
tanajura morre e o sertão
fica sem uma a menos
morta sob a lamparina
ai meu inconsistente
emaranhado
é barra é brasília
é brabo brasil
9
ê maranhão aqui não mais
ei bombordo boreste
como ainda havia rios e
florestas (minha mãe)
bêbados estivadores do mearim
um rio
uma biografia
ê sertão intergaláctico
caipora rasga-mortalha
e cavalos voadores
(no pátio das estrelas)
um sonho
uma fantasia
qual é a minha
fenda
pro abismo se ele
se fende des
abisma o que era
vácuo
lácio inculto
e se rende
ao culto
10
o que era vago
se condensa
no espasmo do verso
desse nervo
esgotado veio
perverso
há uma gota de paris
pus
porra
em cada poema
em cada olho
pleno porre pulmonar
carícia
esguincho
se fosse trafegar
pelas valas
como um rato que rói
a própria raiva
11
nessa noite de pompas
há um policial destruindo
esquinas
vigilando delírios
para não manchar
a cidade dos reis
tão perto dos palácios
e nenhuma bomba
tão devassáveis janelas
quando a rígida noitada
sopra
estou desequilibrado nesse
jardim suspenso
sorvendo o ar cálido
dos exaustores
12
meus sonhos explodem
de vez
entre vigas
e microfones de metais
já
como uma peste atômica
guerrilha bubônica
festa histriônica
febril nuclear
já
como uma afronta aos cães
um gol no estádio na cerca
um pelé supersônico
na rede uma bola
de hidrogênio
13
quebrando taças
anéis gravatas
cartéis
oxigênio do discurso
a mentira o palavrário
as coisas
e tutti quanti
inválida luz
e a câmara
a cruz e a cama
o não-cinema
são os olhos de
sni são eles sem
rir sem falar
de um pé ao outro
bate palmas
pirueta
14
passos à frente pancada
colírio em arco-íris
agonia nas nuvens
na deserção dos gestos
o poema des
dobrando-se em pássaros
em foguetes de guerra
em restos
delírio
delato a pupila
dilato
a vida
porque voa como tudo
até os balões nunca mais
voltam das matas
raiando sanguínea
madrugada fresca
15
somem como as datas
as fogueiras
e pedem outros balões
herdeiros da trilha
da noite
esses que vão passar
as estrelas na bateia
suar constelações
até
cair sangrando
a terra
e seus bichos
alvoroço
alvorada
pátria
amada
16
ocupa a cidade opaca
um esgoto do meu coração
como um poema
de infiltração
rascunha traços
viaturas policiais
descansam sob as árvores
não me desejam
deter
passo como a sombra fica
distante do fogo
do povo
distante de mim
circunstante poeta
17
como os outros passaram
fogo passo
e deixo vestígio
pelo espaço
um pedaço de mim
escondendo a sombra
estraçalhando a marcha
de fardas e fuzis
como um assombro
trem bobo trem besta
trem louco uai trem
ana está
?
tem
base
não
18
trem bobo trem lua
nua
trem lindo
o gosto do teu sangue
é de alma
na calma calada da noite
quando invado seu sexo
ou
ao meio dia
tranco a cidade
e abro as portas
quarto
e entras oferecendo
perfumes de sabonete
entre as coxas
19
varro com a língua
tuas asas pernas
e com as chaves do silêncio
ignoramos o mundo
o alvoroço
a pressa
a morte lá
fora
em labaredas de sarça e sarro
nosso coito coivara
se instala
eu retalhado a balas
vocês iam ver que crime
meus dentes fuzis
urânia palavra
20
fuzila o poema
poeta de pré-textos
voz no pau de arara
peitos pés
autoincesto
eu me desejo
enquanto houver muros
cão de língua esbaforida
olhos de luz assassina
eu
dos autores da chacina
um dos autores da chacina
que zorra
pirataria total profecia
astral
a cidade um bacanal de
astral
21
acaricia o poema
poeta de conter-se
voz sintonizada
no ruído da tarde
e seu fim de expediente
a corte se recolhe
música evasiva
bolero bêbado
tal foda libertina
desastrado poema
circundando notícias
sujas
laudas na redação
como um vulcão
capturado em planaltina
22
os urubus em cima delas
das larvas das laudas
sorvendo sangue africano
brumas de moscou
ok
de washington
ou um estrondo boliviano
destrinchada notícia
o tempo se rasga
como os estômagos
se fodem
de fome de cigarro
na vertigem do verão
no anúncio do impropério
de um jari nacional
rebanho de terras
23
onde arrotam perfumados
senhores colunistas
repórteres que criam o crime
e fotografam
o curral urbano
quando explode
em cifras
e safras
ai deses
truturado poema
saber-te triturado
nesta rotativa no telex
no diagrama.na fita.
magnética na esquiva
dissimulação dos jornais
24
pressurizado poema
nas horas quentes
das famílias após o trânsito
do escritório à mesa
de uma gaiola à outra
caixa forte
pássaros não voam
enforcam-se
putrefatus mundus
como um monturo
onde cada consórcio
de maquinaria
morta sobrepuja o outro
vence-o na escalada
de se perder no lixo
25
reportagem da fúria
o operário é um bicho
acuado
nas manchetes nacionais
GRITARAM
FOI ALI
ELE PASSOU PEDIRAM
PÃO JOGARAM
PEDRAS
CIRCO FERAS
- Deixem-nos berrar
sai despedaçado poema
desse reservatório
de terror
ou sorve-o
como um dinossauro
no tremor da terra
26
um berno
no lombo do boi
frieira de porco
remanso remela
tripas
no asfalto no cenário
da beleza
tenho uma cabeça
cercada de muros
por todos os fios
querendo saltar
um crânio bom
de roer
osso duro
27
estourem meus miolos
veias relâmpagos
na noite de brasília
chamusquem por essa quadra
a anarquia de baal
a preguiça de macunaíma
e ainda na salada
édipo teseu tzão
o sertão
o cérebro da nação
submerge no formol
na guilhotina cirúrgica
no rol
dos órgãos extraídos
na estufa
28
espalhem pelas asas planas
dessa aeronave noturna
labirintos de sangue
antes que a melancolia
das famílias
da solidão desses
funcionários
invadam
nosso aparelho indecifrável
estourem assim
como um golpe
contra esses dias
generais
29
saboreio meus
frutos deteriorados
contaminados à luz
das horas
acaso
um poema sortido
sentido
multinacionalmente brasileiro
que não fosse de poeta
nem profeta nem proveta
mas
não quero falar de poetas
porque esses não existem
e quando evaporam nas estradas
ou dão o corpo no bordel
oficial
30
a república
subestima
passa glostora
nos cabelos
brilhantina
nos trejeitos acadêmicos
e vão saudar
o governador
com a voz embargada
e trêmula e comprada
nesse concurso literário
da fundação funerária
bosta de arte
bolsa de desastre
arte fulminada
arte federal
31
cadê vocês que fazem
do poema um objeto
tão vazio quanto um
saco de risadas
não tento citar poetas
porque esses inexistem
ou retalham nossa língua
quando quebram o pescoço
num torneio oficial
queria
ser
um gatuno
um fauno
malamanhado
amor
32
tão tzão seria absorver
teus lábios
que eu queria
gozar em outras paragens
te transportando na paisagem
a vau
cruzando a passagem anal
um furto de teus seios
na bagagem
meu coração treme
para pisar nas pedras
e pichar essa parede
sacanagem
queria ser importuno
emaranhando tuas coxas
entre os signos
do horóscopo
tarde feroz dois
animais
foi uma chuva de sangue
entre os edifícios
foi uma chuva de orgasmo
nesse endereço postal
suave adeus
vou mergulhar
nas sombras
dos teus mares
34
ligiana
liriana
distantes minhas mulheres
em que leitos
vago só
saltando muros irreais
lírica noite
ligiana
liviana
noitelânia
noitetúnel
is prei
unhas nos muros
dessa urbs
planeta
35
estou no ar
na alma de um aeroporto
no apartamento inabitado
do cruzeiro novo
na aflição dos homens que
o mundo oprime
nem triste nem triste
morcego devassando escuridão
sempre esbanjando
gritos
grunhidos e
o
lado escroto
1
TZÃO
AMA
TZÉIA
2
NA BULÉIA
NA RALÉIA
FAVELHA
3
XERA UMA
COCA ÔTA
NA BUNDÉIA
4
TZÉIA FIKAVA
SÓ
SEM TZÃO
5
ELEITO HERÓI
DO SERTÃO
NO PROGRAMA
SILVIO
SANTOS
6
TZÃO
FRÉIA FODA
NUS PEITU
DA ORORA
7
INGOLE
US PENTEIO
DA XOXOTA DA DEBRÉIA
8
I LAMBUZA
DI KUSPE
U KUZINHO
DA KITÉRIA
9
TZÃO
NUM
BROXA
10
SI A KOISA
NUM SOBE
JÁ SABE
11
APRICA
INJEÇÃO
DE CATUABA
12
UMA PINGA
CUSPARADA
DI OTÁRIO
13
ARRUMANU
US BAGU
U SACU
U CARÁIU
14
SISQUICIA
DI TZÉIA
NUM SHOPIM-CENTER
BONZÃO
15
TZÉIA
SÓ KURIANO
ÔTO TZÃO
VENENO
16
TZÃO NA RUA
SAMBANU
TZÉIA NU QUARTO
QUERENU
17
NU DOMINGO
TZÉIA DISBUNDÔ
18
FOI RAINHA
DE BORDEL
INSPETORA
DE MOTEL
19
TZÃO LOGO
PUXÔ
A PEXERA
20
QUEBRÔ U BARRACO
U FUGÃO
A GELADEIRA
21
I ANTIS
DI MATAR
TZÉIA
22
FEZ ELA
CHAMÁ ELE
DI BRASIL
23
RISULTÓRIO
DA HISTÓRIA
COR DE ANIL
24
TZÉIA
FOI PRO
CANIL
25
XINGANU
PUTAQUIUPARIU
26
TZÃO
VIRÔ
PIÃO
27
PIONEIRO
MESTRE DI OBRA
OFICIAL
28
OPERÁRIU
PADRÃO
CABO ELEITORAL
29
MANSÃO NU LAGO
ADORA VINHO
CAVALO
30
CIGARRO
LUCRO
I KAPITAL
31
I NA SAUNA
DU
HOTEL NACIONAL
32
DECLARA
A MORTE DA NAÇÃO
33
U ARROTU
DA
RAÇÃO INTERNACIONAL
34
MAIS OU MENO
AZEDO
OU FUGAZ
35
LÔVANDO
U PRAZÔ
..., catárticos!
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