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terça-feira, 24 de janeiro de 2017


foto CA/2013, maranhão


vuelvo al sur



claro sou venir que mostro pra você
here in myself the heart belongs to
só na solitude algum sentido faz 
pérola de paranoia extraída
mel de melancolia doce amargo
fina chuva molha o cristal da dor
cura e depura o corpo em extinção
um tição de ser que só tem palavra
um escravo escreve sua própria lavra
livrando-se dos grilhões da fornalha
preso em casa já é alguma coisa ou
é mais ainda alterada coisa que degredo
esse segredo que todos vãos desvelam
camuflagem em favas contadas no trovão
leilão de mim mesmo para tua cena
devir que me desvio e me enfio filho
no ser da morada pulcra conjunção
de pai e mãe lençóis plenos de suor
e juro que não queria chegar a esse ponto
fumo um vagalume me apago ascendo
ardo silêncio suvenir e sobrevivo canto
uma tênue cortina de canto e silêncio     

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017


foto CA/2011

cena quente


entidades tendas mictórios
podres fechados no centro divisório 
da cidade afundada num céu breu
transeuntes nunca dantes vistos
e marginais de tudo o que é real
esquisitíssimos na normalidade
sãos e salvos nas escadas paradas
gás para chorar gás de pimenta
o badernaço fez escola e sustenta  
esta cidade desfuncional em off
que vê mas não enxerga de propósito 
as mais divulgadas crueldades do império
de canalhas fazendo no mundo a imundície  
os impérios são contados nos dedos tatuados 
e esses hipnotizam e aumentam seus preços de
estratégias de selva escura como Dante gravou
em suas páginas misteriosas e luminosas do horror
sobre os povos de inteligentes contatos e índice
de subservidão é isto na esplanada doida então
está tudo explicado por essa menina história 
que não avança apesar da ousadia dos anjos
uma vida de pavor e trash merda seja negada
uma vida de amor caia mesmo sobre tudo
e as asas sangrando logo estarão intactas 


domingo, 15 de janeiro de 2017


foto CA/2017

noite dissolvida


a noite abafada me constrange
a lua que se esconde entre árvores
raio que se quebra escândalo no ar
mas não traz a chuva da benção
preciso amar a margem do precipício
e não jogar-me desaforadamente
mas abraçar sua pedra a terra
e não olhar o abismo inclemente
fazer isso praticar o exercício
como uma cilada para enganar
todo o terror que esse princípio
representa e não me pergunte
que princípio é esse pois nem sei
nem consegui que caísse do éter
ou o prana me soprasse aos ouvidos
mas qual a razão de não estares bem
perguntas são as mais cretinas vozes
que ouço enquanto psicografo o grave 
que soa como avião antes do vôo 
mas não é avião é computador zoando
mas que não sou são isso é a dor
que disse a uma mulher ser feliz e
vejo que não sou não fui não serei
a outra perguntei você não notou
mas sou ansioso e o pânico me pune
e ela de pronto ah notei sim ahahaha  
e isso não importa pois me basta
a ausência de mim mesmo ao meu
lado guardado interior e ventilado
não tenho a força e a fera feroz
em meus domínios no horizonte
talvez as belas vozes de anjos respirando
perdidas cores perdidos pedidos
como se a ausência de deus fosse
aquele momento da fábula bíblica
em que és julgado e logicamente
condenado sem teres culpas mas
com a cuca congestionada de sons
sons falados de falas e falácias
fáceis de se jogar na vasta foz 
do teu oceano como despacho
do teu íntimo como disfarce
da tua agonia como folia
do teu luto
da melancolia
das desavenças
entre ti e mim
armistício