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terça-feira, 24 de julho de 2018


rio Corda/MA/2010/foto CA

três metamorfoses


este é um livro trágico
o coro é o protagonista
corifeus ou bacantesátiros e
deambulantes em edificação 
(o livro nem foi escrito)
então não é livro não é trágico
e nãos demais estragam a fluida
intervenção no campo magnético
seja em qualquer arte tudo é palavra
(sim soam no mais fundo das pedras) 
eu me nego a seguir jornada obscura
eu me pego a ouvir essas baixarias
falsos sorteios certames e old news
erosão de terra matança de crianças
(quero de volta o ouro)
quero o retorno do sim pelo não
não posso querer nada diante dos
acontecimentos vãos e concretos
no instante exato me descarto
(lá vem a memória da canção drama)
de nós e dos nós que traçamos com esmero
bem quisera seguir uma métrica no ritmo de
um coração intemporal e aplicado de destinos
pois fui filho do repente nas noites de rimas
(rodas cantaroladas e palmas de crianças)
a felicidade da infância é dura imaginação 
e mais nada na pequena cidade cercada
de rios limpos plenos para o sol e árvores
e sinos marcando no relógio horas de vida e morte
(não anda quase nada o quadro de ponteiros)

sou um jumento uma onça e uma criança
em espírito herança degeneração e predetina
ção a gênese aflora em ter nascido extático
quase matando minha mãe no parto ela dizia 
(ainda bem que nasci)
burro de carga de carvão de lenha dilema
presa na jaula do mortal a onça minha casa
tição aceso pleno dia sertão planeta estrela
cidade dormindo às oito da noite sob telhados
(contos de trancoso e mil e uma)
aí isso e mais lembrar o coração bomba pronta  
este que tenta bater este órgão apronta e pede
uma benção encarnada do espírito lua de sangue 
a gira me traz as golondrinas da torre ao magno céu
(sanctumsanctumsanctum)

pensei que estava numa estação figurativa dolorosa 
da via sacra na curva do calvário construída em muro
fui arrancado visão imaginada ao saber que Ele logo
iria expirar na cruz e suada linfa verteria no cascalho
(pendebat oh vos oh oh oh oh oh oh oh oh omnes)  
senti logo abaixo o perfume fúnebre e ouvi uma voz
volante de verônica no volátil encontro da fotografia
da fisionomia humana do divino lua sangue exangue
até a respiração das flores do cemitério ao sol diário 
(ramos de oliveira e flores fabricadas)
raio leito do rio caio entre sombras na corrente calma
as pedras não dizem nada mas emitem música e falas

intempestivo empesteado de ternura
sigo sem achar nada engraçado mundo
a não ser em minha própria e destrambelhada
máscara dupla simulacro resplandecente menino
afoito e destemperado na guerra errante do cosmo
(cum licença do curiandamba)