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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

sexta 13 2013

Vremba, deus da
malícia, traz-rouba
alguma delícia
de outro deus, que
não esteja no panteão,
mas traga qualquer
promessa de conversa
pra quem foi condenado
pelo deus Knongo,
aquele de silêncios longos,
aquele que me cala
e me prende em minha
própria casa;
livra meu coração, Vremba,
por intermédio de outro deus
que não seja do panteão nem cerimônias,
da ausência de qualquer
olhar, da mudez
de qualquer olá.
Libera meu cérebro
dos inúteis pensamentos parasitas
infantis alucinantes.
Estou soterrado num impasse
disfarçando a farsa de uma equívoca
solidão no meio de
homens, mulheres e vultos que bebem
sem nenhuma celebração.
Conversas à toa e um ouvido
atento desenham o caminho
dos escombros, donde me cubro
de lajes, cimentos, ferros,
antes corredores elegantes de
um templo em que nunca entrei.
Era o templo de Vremba, gasoso,
no meio do tiroteio, de titiriteiros,
palhaços inconscientes,
sendo eu um deles.
Vremba e suas vestais me concedem
a acrobacia iluminante
de mim, num salto;
para encontrar alguma alegria de Arrelia
suspensa e insuspeita no ar.
Se o circo está vazio,
restam poucas crianças
e os alimentadores do leão.
Busco por aquela trapezista
de lantejoulas azuis que
dançou dobrada o dobrado
da orquestra, arriscada, pura carne
enquanto o sono já vinha e ela pairava
suspensa como a rosa dos ventos ímpares.

circa brasilina/foto: CA

domingo, 26 de janeiro de 2014

não tem fim (nem) terá


batalha barbárie
cultura ordinária
robocop
roubada
clonada
brasília
que nada
esplanada
mirada
rapina
demorou menina
demorou perfume
cereja do bolso
certeza no rosto
pavor de bala
de bala na cara
bandido com bala
bandido armado mala
posando brutalidade
de boçalidade constituído
nomeado no diário oficial da desunião
idade sem rumo sem
sumo de nada de vida boa
escura putaria na dúvida
não duvide ultrapasse
se arraste no chão mas não ameace
se revidar desista despenque desmaie
grite deus me conduz deus é luz
ou se cale rupestre grafite neon apagado

rolezinho de cana
de cana caiana
rolete exaurido
bagaço barbárie
eh eh eh ô ô



terça-feira, 7 de janeiro de 2014

w3norte


w3 norte esc-rota
delete desprezos
espúria ave, avenida feia
placas de colchões
latas de tinta gigantes
vendedores de automóveis usados
provincianos restaurantes federais
kits enter pausas, inseguras.
a linda Júlia e suas unhas de desejo
deslocadas para a asa sul.

móbiles na casa de minha artista japonesa
(cortinas de papel crepom, de ilha de Okinawa)
sinuca metida a chique, escola de música grafitada,
churrasquinho de beco, pizza palha,
deslocamento dos carros atrapalha,
insert alguma novidade, então,
se possível poesia te comove.
não, backspace,
esta noite nada remove, nem os locks
nem os caps, nem páginas acima ou abaixo.

diga w3, diga diabo três:
a única solução é deixar o barulhento buzú
atravessar o eixo monumental
rumo a um festival de teatro
na escura arquitetura da noite. 
foto: CA

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

diamba

deambulação, diamba
sarabamba, sarabemba, sarabimba
tarabomba, tarabumba,
bumba mangueira samba
filha da mutamba, da rezineira
quando eu fumo essa danada
fico com as pernas bambas.
entrei numas de animar só o espírito
e o espírito não é nada sem
água viva, alimento e assombrações.
se o filósofo disser que sou vampiro
do fundo do oceano mais antigo
com órgãos de sucção ao longo
dos braços, ao longo dos olhos,
também posso sugar alguma luz,
Flússer, filamentos, fluxos, frontesições;
aceito e quero e me rendo ao mistério.
nunca eu brincaria com mitólogos;
parasempre estaria emudecido estático
se houvesse ouvidivisto Eudoro de Souza
- tu não alcançarias o poder da alegoria
para isso terias de passar pela transposição  
mortificantes perplexidades do sensível ao inteligível
do mistério do passado ao presente atropelado.
fragmentos são de Heráclito - 
o que fazer com os desfragmentos?
detonações, despontares,

riocorda/2012.CA