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terça-feira, 13 de dezembro de 2016


pintura de Nelson Maravalhas


cavalos na esplanada


era mas não foi 
era mas não é mais
que eu dormisse cedo esta noite
esta que tento escrever mas o sol ?
e os latidos dos cães e o sonido do
computador me deixam atordoado
e assim perco o fio da meada
ou será esta insônia um marco da
superlua e dos meteoros chovendo
das bombas lançadas contra gentes 
chorando cavaquinhos em só vendo
como estou desolado de tanto real
no nó borromeano que atormenta
e me amarra armo uma respiração
que resolve tudo pelo menos pra dormir
desenganado por mim falo boa noite e fffuuuu     

sábado, 10 de dezembro de 2016


foto arquivo JB

respirando Gullar


não sou antropófago
não vou pois engolir Gullar
nem devorar seus escritos
como seria pós-moderno
sei apenas que ao saber do
seu passamento e travessia
do corpo suplicante por respirar
então ao saber do passamento
estampado na página digital
pensei em algum lúmen fósforo
aceso na noite dominada de chuva
ouvi os sinos marítimos no quintal
verdejante de palmeiras da ilha barroca
de bondes e do antes de balbuciar sim
versos renegados nos jornais de crianças
búzios expostos na praia sem hospedeiros
trajetos rastejantes sonoros ataques em mim  
como fruta mais que madura na terrina
pai mãe e irmãos na cozinha e alguns mais
os rios Bacanga e Anil barcas jangadas 
algo ferve no jogo estalante atalhante 
pegar o jornal para pisar em brasas
biografia interessa a outros escaninhos
e a per alta poesia essa é pulsântica
dentro das paredes em que se ouve
rajadas rasgadas pelo mundo
istmo do mistério do rio e do
murmúrio do oceano aqui e
alhures
ferro em fogo ferreiro
Gul gaivota
Lar el mar sim e não

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016


foto de Tayla Lorrana/2012/BsB


manifestatio


entidades diabólicas mictórios
podres fechados no centro divisório 
da cidade afundada num céu breu
transeuntes nunca dantes vistos
e marginais de tudo o que é real
esquisitíssimos na normalidade
sãos e salvos nas escadas paradas
gás para chorar gás de pimenta
esta é a cidade desfuncional em off
que vê mas não enxerga de propósito 
as mais divulgadas crueldades do império
de canalhas fazendo no mundo a imundície  
os impérios são contados nos dedos tatuados 
e esses hipnotizam e aumentam seus preços de
estratégias de selva escura como Dante gravou
em suas páginas misteriosas e luminosas do horror
sobre os povos de inteligentes contatos e índice
se subserviência é isto na esplanada doida então
está tudo explicado por essa menina história 
que não avança apesar da ousadia dos jovens
uma vida de pavor e trash merda seja negada

sábado, 26 de novembro de 2016


foto Rio Corda/2013/CA

tarefa


é tempo de terminar tarefas
então vamos às tarefas
às travessas citadinas e
clandestinas de si mesmas
às paisagens descambantes
às crises dos poderosos ases
engalfinhando-se em esgotos 
tortos toscos tremendamente podres
moscas murmurantes mutantes 
reencenação de clichês do nazismo
antes do seu ataque funesto fodido
a auschwitz infernal insurpotávela
todos sob o jugo dos infernos eternos
mas serena tua mente apaga o link
deste círculo de abjeção a história
objeto abjeto em loja formosa
pressão escrotidão dos poderes 
o sol em sagitário não supunha
esta noite a sucumbir por sinal
controler alterar deletar pescar
no rio cheio em que vias apenas
os pescadores afoitos armarem
nas águas as tarrafas arfantes
e lias o esgar dos peixes fisgados  

quinta-feira, 10 de novembro de 2016


foto de Tayla Lorrana/2014

baixo retrato


pode ser desfocado
vendo-me imóvel
eu não dou conta de criar
nem a mimesmo o duplo
quanto mais a cãesegatos
orquídeas ervas ideias adubos
uns dizem outros desdizem
suas pulsões parabólicas e
querem saber dos fetiches meus
e lá sou eu de me jogar na lama
dos baixos níveis de personificação?
o mercado previa lucro e lucra
o sujeito verbalizou-se em teatro
e do próprio teatro fugiu espectante
e diante de todas as denúncias diante
das cenas de teatro que serão espinhos
mantenho-me impávido porém pálido
perfilado ao povo mais valente decente
lá quero ser protagonista da lente que
mente sobre mim e me escaneia candeia!
o pior é que gosto do retrato que incendeia
e joga luz tela no animal indefeso na teia.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016


foto/CA.2012

nossa língua


a nossa língua minguante
espada de três gumes
ouvido olvida delira avante 
levo desaforos pra casa 
mentalizado abduzido en mí
na mochila dos desesperos em si
carregas os aforismos mais vis 
e jogas online no pilão digital
masseras e tomas o sumo cimo 
estás reduzido a pó de inútil memória  
língua espátula afiada sem história diz
guarda a dor na sacola azul do festival
e com cuidado hasta tu delírio fantasmal

minha casa caótica caosmótica
sabática dominical semanática
nossa em que sentido senhor
perguntas e sem resposta calas
nossa língua não existe bolas e
e cada um que se aguente por
solilóquios dramáticos com final
feliz e desdobramentos vãos em
noite fria e sofrivelmente calma
  

quinta-feira, 27 de outubro de 2016


a criatura por ser/foto de Tayla Lorrana/2012

passa/primavera/passa


asas de mariposas caídas na pia
árvore caída pela queda de águas
britadeiras e latidos e insetos do poste
desde sobre vindo do alto me poupem
e afastem-se da janela da sala da cela 
primavera é extravagância da insensatez
profusão de pragas do agito descomunal
de cigarras de frutas esmagadas no asfalto
de carros estacionados numa mesma casa
comemorando o aniversário do proprietário 
música alta crianças algo enlouquecidas e
mães e pais de bermudas a mostrar para
os pimpolhos dos condomínios nobres os
morcegos na mangueira olhem meninos
aponta o pai ou tio ou amigo e surpresa
geral e próprio eu que moro no conjunto
nunca soube de morcegos pendurados no
maltratado passeio da calçada destituída
sob árvores cheirosas em sachês de flor
acima dos telhados o meu avião passacaglia

sábado, 8 de outubro de 2016



foto/ CA 2012

sur americano


soy sur americano 
vivo en un hogar
con su gente anonima
sobre vivo en la ciudad
con su frieza y soledad
caminho por uma noite sem conversa com luar
e digo ao astro branco quanto é belo o amar
quello che é sin rima pero derrama
dolor delícia d’stare nel mondo 
la rivoluzione degli innocenti 
momento cada falso
memento fascinante
movimento adagio
andante and prestimoso
sonâmbulo ator somb e rio 
que importam as dores e veias
exaltadas por lembrarem de tudo
e sem sono bem como sonata on
line e dans las líneas y sonidos
llegan hasta mí ausencia de usted
longilínea presença luce et ombra 
llanos prantos paesi sustenidos    

sábado, 1 de outubro de 2016


foto alterada/CA

não sei cantar talvez voar

diante de mim e um pouco desfocada
sarah vaughan num sofá conversa 
uma outra pessoa que não vejo em vão
desloca-se entre ela e de perto longe
biombo em alta definição e espelho
canto baixinho por ansiedade em teste
i never give you my number
i only give you my situation 
ella não me ouve cantar e calo 
desafino a voz nos pés e sem pulsão 
percebo que não há timbre nem rima
mas batendo os braços começo o imã
a voar pela sala e alcanço o andar teto
de maneira suave como se ave voo
ela enfim se surpreende e diz uau
e esquecido dela ao planar serenamente
levito sobre as colunas do teatro nacional
ainda tendo tempo de jogar pro céu dormente
minha prece por você por mim por ela e você
na nova obscuridade instalação senão me vivo
minha mente quebrou e começando tudo de novo  
  

domingo, 18 de setembro de 2016


foto anônima(?)

site brasileiro


18 de setembro de 2016
chuvas no ícone
nenhuma gota caiu no telhado
o usurpador viaja esta noite
a paralisia do sono é a pior
coisa em si no corpo de um ser

montagner e o rio o que dizem
o luto excesso de exposição
mesmo da morte palavra mais
escrota e insuportável em registros
de ondas escondendo o monte Fuji
fla bate em flet, flit, flot, flut
clássico empataaaaaaaaaado
ela abandona a dança
dos famosos e resgata barcos
criatura sobrenatural mumificada
teria 100 anos no ceará
mercado fecha as portas para os de 50
não há indícios de terrorismo internacional
avisam de NY
corpos  cozidos podem ser de brasileiros
e a direita radical só sobra no braseiro 

quinta-feira, 15 de setembro de 2016


foto CA


desolamento


a desolação
de um sujeito 
derramado debaixo da árvore
de jamelão
nunca saberei a locução certa dessa árvore
pra mim erariam azeitonas
os pássaros bicando os pés do senhor
carros de som panelas lençóis motores
e assim transita a manhã de sombras
isto é a manhã atemporal de cerrados queimando  
é minha a desolação e um humano está ali por si
mesmo imaginado e com trilha
sonora do pássaro que canta
em escrita musical que não tem igual
nesse mundo e nunca decifrarei
mas ele canta o pássaro pequeno
a ave mais oculta entre os galhos
a angústia mais desgastada nas
folhas que cobrem minha pele
e a do sujeito que dorme debaixo
da sombra da vegetação do existir
ele existe eu não existo o dito está
desfeito e o que parecia tão direito
tudo mentira da minha mente fora
dessintonia e dentro da agonia nós  

segunda-feira, 12 de setembro de 2016


foto:CA 


equilíbrio distante
para Hans Tramm

e aí me conta como eu estava
estive diante de vc na capela 3
depois que nossa amiga mary kake
estacionou o carro na sombra e
caminhamos procurando a capela
e ela de óculos escuros te viu
dentro do esquife nunca ousaria
usar aquela palavra tão vulgar em ão
e te vi com uma serenidade absurda
pela primeira vez te vi e perguntei 
assim cara não é possível que estejas
assim ausente não é possível que não
vás abrir os olhos dar uma gargalhada
esvair-se assim em trama tão defasada
no tempo no espaço em tua última roupa
e elegante chapeuzinho de judeu e as mãos
como de criança que dorme aquela paz dos
justos e tudo é injusto e não consigo deixar
de falar em teu ouvido esquerdo olha eu te
gosto muito e te desejo outra vida se alter
e peço perdão pelo que não fui para ti como
pra mim foste tão vero e libero e baiano
e abandonamos a capela sem graça mas
crentes em tua destinação em uma performance
parabólica é mesmo a última e a primeira da vida

criatura me dizia que nasceu nas obras
da praça dos três poderes. 

quarta-feira, 6 de julho de 2016


foto de Miguel Arcanjo Prado em site próprio do artista

exposto a Maria Alice Vergueiro

buscas a vida em nós da plateia
descalça e chegando com reverências de diva
e antes de encenares a tua própria despedida
um fogo de compaixão e amor brota
em teus pés ligeiros deslizando na cadeira
de rodas da mais ancestral teatralidade

hoje e amanhã e depois não terei medidas
nos versos que gostaria de arrancar flores
da natureza para reconhecer em ti a beleza
diante de tantos supérfluos acenos encenados

caem as máscaras de sarcasmo e compaixão
e um charme intacto nos olhos mergulhadores
em cada um de nós celebrantes calados lanças
espalhas uma suma claridade sanguínea
e voam gestos rasgantes dos tempos

a menina no templo do teatro e alegorias
o pândego e o perfeito feito egípcio clamor
em que os atores surtam e o público acode  
uma criança política dançando sua valsa última

as mãos adejando a esmo
pulsando coração nas mãos
morta e uma mão na cena do nada
tomada pulso take truque
ou fingindo ou profanando é teatro   
o epitáfio é - 2 pontos - a mediocridade me devorou

então esta atriz não representa nada
diria aquele que não viu e se precipita
a peça Maria Alice Vergueiro em seu
velório virtual e viralizado não brinca
nos castiga com o espanto e a ternura
espelhando nosso próximo velório 

desvela tu Vergueiro oh quão dessemelhantes somos
requiescat in palcum evoé ommmmmmmmmm
maaaaaaaaariiiiiiiiiiaa amada......te beijo viva
e sopramos assim mortos em teu berço balanço 

sábado, 11 de junho de 2016





Denísia


ave
denisarvorada
stoklosmos
maria stuart
irati e teu mundo
mendiga e cidadã 
prisioneira da arte
usurpadora elizabeth
des/envolta
em véus de
fisionomia e
desfibrilações
dos nervos
shakespeariana
sem saber que é
essencialmente
essência de pássara
incenso da cena sagrada
voo, de doida, arbusto
da floresta Denise Stoklos.

segunda-feira, 11 de abril de 2016


foto de Vinícius Quintela

AVA

são pátios pathos pantomimas
panoramas de câmara e câmera
escamas nas costas lisas da dama
da menina possuída de atributos e
encarnada de luzes do terreiro das
ilhas espalhadas por continentes em
corrente de amazonídia negralusa ou
a abençoada filha do sal da terra em
em que deus e o diabo são do sol os
mesmos e diferentes filhos por transe

corazón che siempre semper cantes
pues el dolor cantando vencerás  

inflamada geneticamente por poemas asas
azes axé das pedras ava gardner em flor
abertas acesas adeltas aéreas afásicas
ah agoniantes evas uvas de Ava no pátio
da pátria yracema toda yara toda ema 
ajustados alarmantes amares atabaques
anagrama aórtico apostos aquarela
ardente ascendência atalante áurea
avenida awa axial ayracema azalá!

CA/11.04.16     

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016


A Justiça, de Alfredo Ceschiatti, Praça dos Três Poderes, em foto de Valdemir Cunha
(com sua licença autor) e pequena alteração básica.


a justiça é cega


é ridícula
balança e espada
balança sua espada
espana sua bondade
témis e diké
a temerosa
a dikétômica
eumón, eiriné
nem querem saber
justiça, disciplina, paz
nós escravos filhos da
terra e do céu.
que tu, deusa atrevida,
levantes no banquete
de todos os deuses
dando uma de dona dos donos – 
lembras o que fizeram em Roma;
puseram a venda em teus olhos. 
esse é o mito e todo mito é do povo,
mas por que estás cega
és caricatura ou criatura
navegante nave de touros
doida, doída, dorridente
nadas sem ninguem sem direção
és a bêbada malvada
imparcial
passas a noite em ruminante vigília
para a praça vazia, olhos acesos
perdes o dia em letárgico granito
esculpida,arteira, dama
frígida aos teus poderes
os cães de uma pátria
mas dizem explicitantes as nuvens
ela voltará a enxergar
retirando-se do tribunal
ela queimará as togas e
as cadeiras ostentosas e
em seguida se jogará no
lago, sabendo daquele
esconderijo que nenhum
general imaginou existir.
vendo os olhos para que
não me possuas como mais um
a pesar em tua balança manca
e enfrentar a enferrujada espada

11.2.16

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016


foto CA/2012


objeto ejetável


afinal você é um homem ou uma ameba
ou um abacate que se deixa bater pateta
afinal você é um homem ou um rato roto
perdido do próprio barato destinadormar
sonrisal pier sobre as pedras grandezas
a máquina pública infâmia e rementiras
a ética rima morte com dignidade dança
noite mansa ar de alface silente a sabor
pão de queijo chá de gente antiga agora
ameba esteja nu sem a carapaça 1871
ou pateta parvo isso nunca serias 1740
pier avançando venenamente sobre 2014
palavras objetos abjetos e ejetados nos
tálgicos instantes de pavor dorbanalidade
um anjo sem asas e trombeta sussurra na
área escura da casa não és poeta nem és
um malabarista de palavrares então estuda 
pense pense numa pessoa em suspense e 
lance o intoxicado ar do teu corpo à terra 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016





Rio Corda-2014/foto CA

adjetivo(s)


por que decretaram
que não posso chamar
adjetivos sendo um substantivo
tudo o que me cerca cativo e
também refém das normas?
por que me chamaram
a uma festa inexequível
sendo distante a função
e demorada a sessão?
porque os adjetivos em mim
são tão parcos e repetitivos e
parecidos com os de todos em
maior ou menor grau, lexemas
invadem meu canal túnel fala
e rebervaram ..oh.. estúpidos
adjetivos espúrios, expurgados
e alguns tão adjetivamente breus
pretos perfumes cobrindo vazamentos
da lancha coberta de palhas e paz
a subir o rio, entre cordas e os pais
verdíssimas cordas afagos na mata e
o batelão a puxar atrás o que seria um
depósito da denotação; do que à cidade
chegaria em bom estado e conservação
desviantes meandráguas fluviais