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domingo, 29 de novembro de 2015

situação


foto/CA/2013

ambiente saturado suturas pelos espaços
papéis livros papéis jornais papéis anéis
de fumaça circulando entre quartos janelas
a sombra por trás das sombras assombrosas
falas ao telefone e imagens ainda mais escab
rosas no circuito pouco recomendado espesso
dacadeira diante da máquina à estante depoeira
e letras e papéis assustadoras capas de apreço

o lugar do poético é aquele que ninguém quer
ouver assuntar lá não é luz nem luminúrias
menos lamúria e mais lentíssima contração
do coração artirante calmável desdobrível 
aquilo demências da mais demência lírica
não é destruída escapada da terra é a própria
calçada em que andas contando tentando andar
numa reconciliação sem precedentes entre deuses  
um dois um dois um dois três um um dois três

e o vazio desse conjunto de casas causa aflição
cobrir os espelhos proibir os instantes saltar
tempo muro janela sofá pedras do rio do mar
nada a dizer tendo a abrir a cancela de ferro
da casa e acendendo as luzes ouvir os erros
música que se esvai no esquecimento tênue
entre perder e ganhar e aceitar o meu avião 

todas as noites a essa mesma rota faz sua hora
sobre as casas desta quadra em que os cães-luz
feras esputidamente no compasso latem presos   

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

foto de Junior Aragão/intervenção

508 Sul

do alto da sacada em arco aberto
do espaço cultural respiro incerto
antes arte e confusão reinaram

cerrado pela chuva minimalista
contemplo convenhamos a via
molhada e tenho pena de mim
aos olhos atentos para a W3
alta comiseração que toma poder
entre automóveis ônibus e motos
calados em direção a destinos afins
setores autarquias estacionamentos
vagamente magnéticas vertigens veem
e vêm as visagens incompletas da cena
cruzamento de tempo teatro e som
da superquadra saudade do galpão
palmas gritos noites dias de surpresa
cartazes na vidraça do cine cultura
letras desenhadas à mão no painel
estudantes de jeans e blusa branca
o grande-circular ambulante anda

a praça 21 de abril é palco
e dançam os saltimbancos
as cigarras começam a ser
sonorosas nuvens pousam   

volto para a sacada voando
solto fumaça sopro gás carbônico
encaro o desfazer-se de tudo
a cada segundo inesgotável
de nitrogênios no ar proteico
a favelização da nada avenida
os abandonados das marquises 
caravanas de crianças tontas
a química instalada em gotas
as primeiras casas hoje rotas
o silêncio do bucólico esperar
ônibus olhos grafitados e sus
pendidas faces de adolescentes
em risos uníssonos embaixo e entorno
das paradas que também são descaminhadas
calçadas trepidantes e olhar os pássaros