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sábado, 30 de maio de 2015


foto de Luis Jungmann Girafa


Maravalhas - maravilha e navalhas
 


de macacão vermelho, ao lado do espantalho,
do carrinho de pipoca, de hóstias sem consagração,
de um vinho com sabor renascença, Ele recebe os
que chegam para a abertura de uma exposição
na base da grande bacia branca de concreto.
e, ao abrir o pano para os animais dramáticos,
mergulhando os visitantes numa desinstalação,
somos dramatis personae, fulanos da foliarte,
soltos entre o ajuste e o desajustado: objetos
pedaços de pau e pedra, ligações umbilicais em
secreta armadilha para o tosco e o translúcido,
formalização, em traço, em cor, em vozerio de
gente queimada nas páginas rasgadas da história.
as máscaras saltam, os esqueletos são exóticos,
ou talvez eróticos, ou talvez grafismos anatômicos,
construções figurais, armoriais, desfiguradas de um
barroco maravalha – tudo fora do espaço, silêncio!
a ocupação de signos animais, uma sequencial de
gritos, gritos documentais, gritos empalhados ou
talvez apenas peraltices do peralta em nua ópera.
duvido que alguém consiga recordar o labirinto
do drama mecânico desses animais. A comédia
é a viagem dos hieroglifos, seres extratransladados
destrambelhados, num mundo engraçadamente
contorcionista tornado tortêmico. barraco armado.


sábado, 16 de maio de 2015


Rodrigo Fischer em Misanthrofreak/foto Juliano Chiquetto


MISANTHROPFREAK

A FACE DUPLA/. Othon Bastos em Deus e o Diabo, Glauber Rocha/Bruno Garcia em Cleópatra, Julio Bressane/...Alguns enigmáticos sujeitos-signos neste rosto do panfleto de Misanthrofreak, que de misantropo não tem nada. É invenção de um ator rizoma perdido fora da sua/nossa/cena, exasperomental e esperadonada./ Rodrigo Fischer apresenta no Teatro da Caixa (ainda hoje sábado às 20h e domingo às 19h) sua criação de 2013, que estreou em Nova York. RF é um ator eminentemente brasiliense. É de linhagem vinda das fontes murmurantes criadas pelas performances, peças, coreografias e outras artes tentadoras de figuras de alto calibre como Eliana Carneiro, Felícia Johansson, Maura Baiocchi, José Eduardo Garcia de Moraes, Rick S     eabra e Simone Reis (só pra ficar nesses exponenciais). O ator rizoma, claro, produz ramificações.   Hoje, o ator recusa os modos convencionais e inventa sua própria máquina exasperante/da interpretação por ironia, inteligência, poética, arte visual ou puramente circense e nonsense/cinema/vídeo/projeção./ A figura, a fisionomia, o semblante, /o implante na plateia de cenas insones/deslocamentos de bugingangas tecnológicas e versáteis, em partitura de luzes, sombras, cenas explícitas e de composições memoráveis, /aforismos nietzscheanos/desaforos e medos e ternuras nos desenhos de voz e percurso físico da máscara fischeriana/. Objetos, caixa de ferramentas, roupa talhada em fina estampa/. E a principal presença plural e minimalista do ator signomanipulador. É isso: Misanthrofreak é um espetáculo de alcance além dos territórios delimitados. Brasileiríssimo na inteligência do comediante e poeta-em-cena, versátil, malandro na trilha, inconformado e de uma dramaticalização de rara eficácia. Beckett fica ali na coxia, às vezes na plateia. This actor is totally freak. E sem revisão nem repetição de um espetáculo que não se repete (Sobradinho, 16 maio 15).