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quarta-feira, 12 de julho de 2017



foto de Tayla Lorrana/Maranhão/2012



a pedrada


tenho embaixo do olho esquerdo
uma leve cicatriz que me define
nos limites do que passou e não
foi bom mas foi o pânico de sim
ter sido atingido pela pedra poita
lançada da margem direita na moita
do rio corda chegando ao mearim
por um vulto de vândalo na sombra 
e o sangue desceu desde o rosto e
também pelo rio cristalino afluente
mudando a cor das águas pardas

peixes gostam de sangue humano
de sangue não não gostam e nadam
mas o sangue nas águas excita-os à loucura
e sobrevoam por minhas peles e ossos novos
corpo pesado âncora de chumbo
no fundo talvez do leito mais fundo
meu irmão nascido depois de mim
não lembro se já previa a pedrada 
se jogou no rio e me trouxe até
o porto agora inundado de bom sol
e logo em seguida à passagem de 
uma passada embarcação de carvão
subimos as escadas não sei com que cara
pernas molhadas inquietas vexame

não chorei ou então chorei
quando cheguei em casa
de olho fundeado peixe morto
lembro e nem sei da pedrada mais
cicatriz aqui presente mas que nada
aquela que passou foi uma porrada
pedra no caminho das águas ágeis
sem mágoas tenho essa leve
cicatriz infantil e sulcada na face

domingo, 2 de julho de 2017



filme socialismo


os mares de Godard
godarespoir godardos noar
um navio íris de ísis multiétnico
pluriténico cinemaexessência
um oceano de ondas espumas profundezas
gentemalhandonoconvésdacriseemaltomar
porquenãosomosamados
perderamsepotenciassanguíneas
do amoreissomeangustiano
ossodopeito
exéquias excretoras
tímpanos tumbadoras
aparelho do navegar virtual
a pele da baleia do elefante
marinho dos cardumes em
cinemascópio


argel
chega de crimes e de sangue
as coisas dascoisas nas coisas
nas cabines comandos controles
o dinheiro os bares as línguas
negativos números
a palestina sina de sangre
cisne branco e gigante ofega
deslizando nesse mar de refregas
azul de geometria exangue
o pensamento dialético no esgoto
escumas e escunas flutuantes espumas


a mente suga da matéria
percepções desproporcionais
alimento elementar
nadam claridades voam
reflexos negros submergem
cenamemórias  língualheia
quando falo comigo mesmo
utilizo palavras ouvidas do outro
revolução helás reles
as áfricas mais uma vez se fuderam
o que sempre fizemos é patético
egito palestina odessa
grécia nápoles barcelona
ao sol é a morte
nunca olhar de frente


esta manhã enterraram
a estátua do meu deus sangrando


jogo taças no mar
ele o deus nunca promove genocídios
eu sou aquela mãe do fotograma eiseins
subindo os degraus da escada de odessa
em desatino com o filho jazendo nos braços
o pensamento dialético no esgoto
voltam as espumas flutuantes
escunas acústicas


esta noite sonhei e aconteceu
lançavasêmen no maremslowmotion
sem me importar com as câmeras on
segurança or algum olhar de satélite
           
amava o mar amava a mar
tocava uma ária de sereia
no parapeito eis o god ardendo
nas chama(da)s do mundo
sem comentários e é fim