Páginas

quarta-feira, 12 de julho de 2017



foto de Tayla Lorrana/Maranhão/2012



a pedrada


tenho embaixo do olho esquerdo
uma leve cicatriz que me define
nos limites do que passou e não
foi bom mas foi o pânico de sim
ter sido atingido pela pedra poita
lançada da margem direita na moita
do rio corda chegando ao mearim
por um vulto de vândalo na sombra 
e o sangue desceu desde o rosto e
também pelo rio cristalino afluente
mudando a cor das águas pardas

peixes gostam de sangue humano
de sangue não não gostam e nadam
mas o sangue nas águas excita-os à loucura
e sobrevoam por minhas peles e ossos novos
corpo pesado âncora de chumbo
no fundo talvez do leito mais fundo
meu irmão nascido depois de mim
não lembro se já previa a pedrada 
se jogou no rio e me trouxe até
o porto agora inundado de bom sol
e logo em seguida à passagem de 
uma passada embarcação de carvão
subimos as escadas não sei com que cara
pernas molhadas inquietas vexame

não chorei ou então chorei
quando cheguei em casa
de olho fundeado peixe morto
lembro e nem sei da pedrada mais
cicatriz aqui presente mas que nada
aquela que passou foi uma porrada
pedra no caminho das águas ágeis
sem mágoas tenho essa leve
cicatriz infantil e sulcada na face

Nenhum comentário:

Postar um comentário