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quinta-feira, 4 de setembro de 2014



foto de Tayla Lorrana/2012


da satélite para o plano


aquilo era tão distante passeio, extenuante jornada,
viagem alongada, onde se dormia mesmo em pé,
passando por sombras de altos eucaliptos em série
e o aroma vívido invadindo o ônibus, adjetivos no ar
e uma serra por descer, uma visão substantiva
de parte das duas asas do plano, o avião concreto,
o lugar cobiçado, alvo, amplo, sereno e hostil;
íamos passando por baixo da catraca, sem pai nem 
mãe que nos vigiassem, livres criaturas da novacap.
a piada entre os irmãos: diabo três, ou ei-chuchu!
nós que não estávamos habituados a comer chuchu 
e nem compreendido uma cidade sem conhecidos,
imitando propagandas nas viradas bruscas
do scania-vabis (ou mercedes benz?), um bichão 
barulhento, fumaceiro, a ponto de explodir. 
se não se conseguia abrir o vidro da janela,
pela força, puxando asperamente, ríamos:
toma, tody; toma, tody - bordão-tevê da época,
repetíamos ruidosa e ridentemente em plágio.
numa curva, todos pendendo para o lado contrário,  
e minha irmã mais nova encontrou dinheiro
na serragem espalhada pelo corredor:
sem duvidar, cobrimos a cédula com os pés
e, algumas paradas à frente, entre o olhar de 
apartamentos decorados como em novelas,
pusemos o achado no bolso e, nesse dia,
perdidos pelas quadras, buscando a igrejinha,
que só achávamos uma capela sem padres e fiéis, 
sorvetes de deliciável creme e casquinhas
foram nossos ao sol, e era apenas o início da tarde.
santos nos seguiam, azuis e brancos, e bastava.  

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