Páginas

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A beleza

Negra alta harmonizando sobre a cabeça
Roupas brilhantes, algodoadas, engomadas
Passava pelas ruas de areia cheias de espiões
Passava como parecia num desfile
Silenciosa e decidida e calada
Enquanto nas calçadas bocas proferiam
A elegia de sua fineza com os tecidos.
Lavava numa tábua à beira do rio, usava anil,
Passava no ferro em brasardente e enchia
A casa de roupas brancas, azuis, cáqui
Calças e camisas, lenços e lençóis.
E sua encorpada postura ao carregar
As límpidas peças sobre a bacia
Coincidia com o final do dia, o sol saía de si
E ficava a indagação de todos:
De quem seriam as roupas clarissonantes
Bem belas, protegidas, perfumadas de esperança?
Ela desaparecia na esquina, sumia no enigma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário