Páginas

sexta-feira, 9 de março de 2018


foto de Tayla Lorrana/agosto 2011


domingo quebrado

quebrar o domingo um dia destituído de semântica
um domingo me traz sensações largadas por mim
mas que não interessam mais aliás lilás me largaram
no banheiro de cerâmica branca e azul legado de mãe
de pais e irmãos no tempo dos trapalhões e do baião
dos almoços bancados por meus pais para compadres
e comadres barulhentas parentada de euforia padrão

quebrar o domingo indo ao teatro na sessão da tarde
um teatro na memória instalado tragicômico e absurdo
em que atores desempenham o seu papel e nas coxias
respiram ofegantes pelo sofrimento por serem outros
num contexto da cena plateia pasma quer o mesmo
mas os atores são perspicazes em sua encenação de dor
e nos trazem risos deslocados espelhos mágicos de luz

quebrar o domingo desfibrado o coração na corrente
de vento deslocando-se da torre de tv para a esplanada
ao fumar as primeiras diambas mijando na grama como
o mais liberto cidadão da pátria deserta no domingo findo
fontes luminosas na estação das secas e dos silenciados
ônibus panorâmica solidão sensação de não vencer a dor
até chegar em casa a tevê no escuro a família dormindo

Nenhum comentário:

Postar um comentário