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terça-feira, 10 de junho de 2014


foto CA/2012


sós palavras


só palavras iluminam caminhos
só palavras separam o espinho das rosas
só palavras totais, não palavras quebradas,
articulantes palavras, não são pedras, são ilhas
e as palavras em pó são palavras do devir.
o destino não se mede nem se mete 
com palavras que se armam árduas armadilhas
sem palavras que rastejam como destinos
destituídos de  canais, de cais, de cicatrizes.
palavras pulam sobre o pescoço de outras
onças,  artérias, órgãos, anatomias
quebram, estalam, fazem a perdição
que as falam, denunciam o lugar do crime,
chamam as abelhas, espantam os cães
a faca no rio, meandros de Polanski,
ondas onde a terra acaba.
palavras entram pelo cano, e saem em silêncio,
falsas cenas montadas do poeta de Stalker,
gritando penetram a linfa, o sangue, o metabolismo
palavras enroscam-se nos cordões do corpo 
de suplicantes, celebrantes e semblantes,
espelho do que foi divino e dividido
dentro de mim, dentro de ti, desconhecido
oculto em sua própria aparência e epifania,
criatura não se revela, avessa a si, ao seu mistério
seja vulgar ou bacana, seja ordinária ou inefável.
Vou é me calar, vou afundar no silêncio,
dessas palavras sós não saem coelhos, 
densas palavras nos deixam exaustos,
como flores de flamboiã logo em seguida à queda. 

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